PF mira médica e clínica por desvio de canetas emagrecedoras apreendidas pela Anvisa no Galeão

Servidor foi preso, e médica é alvo, suspeita de comprar o medicamento para emagrecimento retido.



Por: Adriana Rezende, Marco Antônio Martins, g1 Rio e TV Globo

Publicado em: 21/10/2025

Parte dos medicamentos retidos pela Anvisa.

Foto: Divulgação/PF

A Polícia Federal (PF) iniciou nesta terça-feira (21) a Operação Ignota, contra o desvio de canetas emagrecedoras de Mounjaro apreendidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, no Galeão.


Agentes saíram para cumprir 3 mandados de busca e apreensão em uma clínica de estética na Barra da Tijuca e na casa de uma médica, na Zona Sudoeste do Rio, suspeita de adquirir parte desse medicamento. Houve buscas ainda em São Gonçalo.


A operação é um desdobramento de uma investigação que começou em agosto, quando um servidor da Anvisa foi preso ao deixar o Galeão com frascos de Mounjaro em uma mochila. Ele trabalhava no setor responsável pelo armazenamento de materiais apreendidos.


“A investigação, que conta com o apoio da Anvisa, foi iniciada a partir do aumento expressivo de apreensões de remédios para emagrecimento na fiscalização aeroportuária, os quais são importados clandestinamente e desviados para comercialização em clínicas médicas”, explicou a PF.


O g1 apurou que, em fevereiro, o marido da médica tentou trazer do exterior 80 canetas sem receita, o que chamou a atenção da Receita Federal, que reteve a carga e a encaminhou para a Anvisa. À época, o Mounjaro só era permitido para o tratamento de diabete (entenda abaixo). Essas canetas foram sumindo aos poucos, o que levou à investigação e à prisão do servidor.


De acordo com a PF, as canetas eram vendidas irregularmente, com valores diferentes dependendo da validade: as dentro do prazo custavam mais, enquanto as vencidas eram oferecidas “com desconto”.


O Mounjaro é um medicamento que depende de receita, que fica retida na farmácia, e exige condições rigorosas de armazenamento, transporte e aplicação.


“A importação clandestina de fármacos do tipo representa um risco para a saúde pública, em razão da impossibilidade de verificação da real procedência dos medicamentos”, emendou a PF.


Os investigados poderão responder pelos crimes de Importação e venda de medicamento de procedência ignorada, bem como receptação qualificada.


Aprovado em junho


Em junho, a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, foi aprovada pela Anvisa para o tratamento da obesidade — desde que a doença esteja relacionada a pelo menos uma comorbidade.


A caneta, concorrente do Ozempic (semaglutida), era vendida no país desde maio, mas só estava permitida para o tratamento da diabete tipo 2 — agora o escopo ficou mais amplo.


A tirzepatida age no controle da taxa de açúcar no sangue e do peso de pacientes. De acordo com a fabricante, ela é a 1ª medicação disponível e aprovada capaz de atuar nos receptores dos hormônios que agem no controle do apetite.


A aplicação do medicamento é injetável e semanal. Há doses de 2,5 mg e de 5 mg. A caixa com 4 canetas pode custar até R$ 2,3 mil, dependendo da concentração e da adesão ou não ao programa do fabricante.